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sábado, 29 de novembro de 2014

Crônica por Conrado Matos - Psicanalista

RECORDAÇÕES DE INFÂNCIA

Por Conrado Matos – Psicanalista e Colaborador do Jornal Tribuna da Bahia.
Crônica publicada no Jornal Tribuna da Bahia.

Lembro muito bem de alguns amiguinhos de infância que nos deixaram marcas na nossa vida.
Recordo-me que brincávamos de bolinha de gude, pião, cabra-cega, boca de forno, gangorra, e fazíamos vaquinhas de barro e curral. Essas eram as brincadeiras que vivenciei quando criança, principalmente, no interior.
Eu gostava de fazer aviãozinho de papel, pipa (arraia), fazia caminhãozinho de madeira, patinete, pião, violão com lata de óleo de comida, com um furo arredondado no meio e seis cordas. Tudo era bem assim nessa época, muito artesanal, e nos dava prazer. Nós fazíamos os nossos próprios brinquedos, e ficávamos bastante alegres quando terminávamos de executar. O caminhão tinha as rodinhas de madeira, e eu usava um cordão para conduzi-lo, subindo barrancos, e no teste drive, comprovava a qualidade do meu caminhãozinho, com cabine de lata e madeira. Era assim nessa época. Eu testava as minhas potencialidades, tudo muito no natural.
Nós vivíamos uma relação muito próxima através do lúdico, das brincadeiras tão simples. Tínhamos momento de frustrações sim, mas também tínhamos muitos momentos de alegria e prazer. Dividíamos os brinquedos uns com os outros, dava muitas risadas e gargalhadas. Muito diferente de hoje, que a criança não pode dividir o tablete, o celular, ou o computador. Senso de compartilhar não existe mais, a não ser tudo no virtual. E Quanto as risadas e as gargalhadas, ficam entre a criança e os personagens do game, coisa tão artificial. É muito individualismo.  Mais robô menos humano.         
Nessa época chorávamos como irmãos e ficávamos alegres como uma só família, afetuosos e fraternos. Dividíamos o prazer de nos sentir humano.
É uma época que não posso voltar atrás, mas trago muita gratidão de ter vivido apaixonadas brincadeiras com meus amiguinhos de infância. Esses, sim! Vivem em minha memória com muita simplicidade, e nunca mais esquecerei.
Hoje vivemos a nova era da tecnologia que, por sinal, excelente avanço da humanidade. Podemos falar com nossos amigos distantes, através do facebook. Porém temos visto as nossas crianças afastadas dos brinquedos, e apegadas aos tabletes, aos celulares, vivendo enclausuradas em apartamentos apertados de condomínio, de olho na tela do computador - tendo como maior relacionamento de afeto, a máquina e o celular de última geração.
Essa convivência esquizóide, assim posso denominar, vai deixar muitas lacunas negativas na infância da criança de hoje, como afastamento dos amigos e a solidão, comparado a essa convivência da minha época de criança, que era de aproximação humana. Essa proximidade com o ser humano vem deixando de existir, e permitirmos viver em um mundo egoísta, isolados dos amigos e apaixonados pelos, whatsappianos, facebookianos e os personagens dessa nova era tecnológica. Vamos ver aonde vai chegar.
Eu não quero ter o computador e o celular como meus maiores amigos, porque estes não sentem prazer por mim. Quero estar próximo do ser humano, porque este me dar prazer e felicidade. Podemos compartilhar amor, trocas saudáveis e confiar um no outro. Isso nos faz sentir pessoas humanas, e podemos também ser criança, brincar no parque, ir ao jardim zoológico para ver os animais, nos deliciar de algodão doce e pipoca. Dar um beijo no papai e na nossa mamãe. Visitar a família e os amigos, e dar um grande abraço. Podemos também sentar na praça ao anoitecer, ir ao teatro, ao cinema, e ao sítio nos finais de semana e poder subir em um pé de mangueira, e nos lambuzar de manga. Depois podemos nos encontrar em um bom café e pessoalmente, comentar e compartilhar o prazer da vida, podendo curtir um encontro a dois, como fazem os companheiros. Como adulto podemos fazer como criança, basta que saibamos amar.

Conrado Matos é Psicanalista, Filósofo, Teólogo, Educador e Escritor.

E-mail; psicanaliseconrado@hotmail.com 

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