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quinta-feira, 9 de julho de 2015

A ESCUTA DO TERAPEUTA artigo por Conrado Matos .


CONRADO MATOS é Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com – Tels: (071) 9910-6845/8717-3210.

  

A ESCUTA DO TERAPEUTA

Texto de Conrado Matos – Psicanalista e Colaborador da Revista Ciência e Vida Psique, e Jornal Tribuna da Bahia.

Uma pessoa bem virtuosa convidou seu amigo para a sua casa, para passar uns quinze dias. O amigo resolveu aceitar o convite. Saiu de muito longe para ver o seu amigo de infância, que já não via há muito tempo. Quando chegou na sua casa, foi muito bem recebido, embora, alguns dos filhos do amigo, além de uns parentes, não foram bem receptivos, não o deram nenhuma atenção. O amigo ficou meio encucado com o que presenciava, e começou logo a pensar que estava incomodando. Já pensava em retornar para sua casa. Gostava muito do seu amigo, mas teria que ir embora, pois não estava agradando a todos.
No outro dia, o amigo já estava com as malas arrumadas para a partida. O amigo surpreso com o que via, fez a seguinte pergunta: Por que meu amigo já quer ir embora, já que sua previsão era ficar em minha casa durante quinze dias? O amigo todo sem jeito, respondeu: Meu amigo eu já vi que o gato (animal) está certo. "O melhor amigo do gato é a sua casa". O dono vai em
bora, mas o gato quer ficar na casa". Não tem nada tão bom quanto a nossa casa. Eu já vi que nosso maior amigo é a nossa casa, o nosso travesseiro, a nossa cozinha, a nossa geladeira, o nosso prato, o nosso garfo, a nossa cama, o nosso quarto, e nosso sofá para ficar todo despojado, como faz o gato de estimação de lá de casa. Desabafou o amigo, o agradecendo, e dando-lhe obrigado por tudo. O amigo sentiu muito por não ter feito nada para impedir a sua partida. Ficou um pouco apreensivo pelo por quê do seu amigo ter ido embora tão cedo. Mas não pode fazer nada, e o jeito foi aceitar a sua decisão.
Esse relato desses dos dois amigos, me vem uma reflexão sobre como deve se sentir um analisando quando busca por uma terapia com um psicoterapeuta ou um psicanalista. Imagino como não deve sentir-se um analisando quando não é bem acolhido pelo profissional. E, por falta de um diálogo mais democrático e um enquadre bem esclarecido, entre ambos, penso o quanto esse analisando quer para desembaraçar as cartas do seu passado, marcadas pela dor, e não tem alguém preparado para lhe emprestar a escuta ou a compreensão por algum tempo, pelo menos durante um tempo de análise. A compreensão e a escuta são os instrumentos que devem usar um psicanalista, porque aquele que quer ser escutado precisa de extravasar seu sofrimento. Essa escuta do psicanalista e a fala do analisante têm algo de subjetivos, e nada se parecem com um simples bate papo num boteco ou num banco de uma praça.
Recordo-me que Freud em uma das suas obras, comentou a respeito de uma das suas analisandas, que chamara atenção por ele falar tanto, a ponto de atrapalhar o fluxo das suas ideias. Freud interferia muito e escutava menos, e incomodava demais a sua analisanda.
A partir desse erro técnico, Freud passou a convidar seus pacientes a deitar em um divã e expor as ideias que lhes viessem espontaneamente em suas mentes, enquanto ele os escutavam intensamente, sem nunca mais atropelar o pensamento livre de seus analisandos.
A escuta é fundamental para compreensão de uma pessoa que precisa de ajuda. A arte de escutar tem algo de subjetivo que ajuda a alma de uma pessoa. A pessoa traz a sua dor passada para ser revivida, não falo da dor física, mas falo da dor do inconsciente. A dor que é presente, mas que traz o resultado destrutivo dos escombros do passado. Essa dor é que deve ser removida, e a escuta capacita o psicanalista e o analisando a entender melhor as razões dessa dor reprimida, irreconhecível e estranha dentro de nós - a dor do inconsciente.
Quando não sabemos lidar com a arte de escutar a quem deseja ser escutado, essa pessoa tende a se afastar de nós. Faltou o acolhimento e a empatia. E, acho que alguns terapeutas falham com isso, e usam desnecessariamente, em muitos casos, o recurso da psicofarmacologia, para simplesmente abafar a dor do sujeito que deseja ser escutado.

CONRADO MATOS é Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com – Tels: (071) 9910-6845/8717-3210.

domingo, 5 de julho de 2015