POR CONRADO MATOS PSICANALISTA E PROFESSOR DE
FILOSOFIA E SOCIOLOGIA
Artigo publicado nesta Terça-feira,
14.10.2014, no Jornal Tribuna da Bahia.
O que faremos para recomeçar depois de
termos vivenciado a dor da perda, mesmo não a esquecendo nunca mais? A perda de
um ente querido. Que diga de passagem - como dói! A perda é dolorosa. Quem já
sentiu sabe muito bem. Mesmo assim, precisamos reservar muito gás para
continuar lutando instintivamente pela nossa sobrevivência, estando ciente de
que não nos livramos de outras perdas, de outras decepções. Enquanto existe
vida, presenciamos perdas, derrotas e vitórias. O bom da vida é não perder a
cabeça. Tudo isso passa. A vida só tem graça quando passamos pela dor da
frustração, e pelo prazer de tudo que conquistamos. O mal e o bem andam juntos,
e vivenciamos a experiência dos dois. O certo é não se desesperar, para não
fazer besteiras na vida.
Como a vida é curta! E muitas vezes,
temos que nos livrar do perigo e da morte. Vivemos assim, nos protegendo do
perigo, até que um dia teremos que partir.
A perda é ingrata. Mãe má, do leite
mal de Klein ( Melanie Klein – psicanalista que aprimorou a psicanálise
infantil), que nos deixa frustrados e decepcionados. Mas com seu amargo
psicossomático, vivenciamos o enigma, a dor da angústia real, a que nos motiva
a viver um tormento psíquico, para poder mudar de foco.
A perda de um amor, por exemplo, pode
nos fazer refletir o quanto fomos egoístas e desumanos. O quanto faltamos com a
arte do bom relacionamento, e por pouca experiência interpessoal, não fizemos
as trocas devidas. A perda de um emprego pode provocar um estalo grandioso em
nossa mente, e nos fazer pensar que devemos mudar de foco, criar novas
estratégias, e nos especializarmos profissionalmente com muita urgência, para
não cometermos as mesmas falhas e os mesmos deslizes. Ou quem sabe, a perda de
um ente querido, que pode nos fazer refletir e buscarmos por maneiras mais
humanas, fraternas e calorosas.
Só sei que, com a perda, vamos passar
pela provação de alguma coisa desastrosa ou desagradável em nossa vida. Seja para
o bem, ou para o mal. Tudo depende de como se encontra o nosso psiquismo, ou o
nosso próprio eu, como maior gerenciador da nossa consciência.
Perder nunca é bom. Às vezes, quando
perdemos algo, nos dá uma dor de cabeça danada. Haja analgésico para
tranquilizar a dor. A dor presente, mas que lá no passado, existiu a outra dor
– a dor do trauma; a dor do inconsciente – a dor psicossomática.
Tem gente que quando perde dinheiro,
não dorme bem. Tem torcedor de futebol que quando seu time perde, fica
agressivo e parte para o vandalismo. Já existiram pessoas que suicidaram diante
de uma perda. Mas há daqueles que já romperam com uma relação amorosa, e
disseram-me, em análise, que se livraram de um tormento. Pois é, tem perda que
nos faz muita falta, mas tem algumas que foram mesmo que se livrar de um dente
estragado, que nos atormentou durante a noite.
A perda é assim, ingrata e boa. Quem
não já passou pela experiência de ter perdido uma namorada para alguém, às
vezes, um conhecido ou um irmão. Ou por ter perdido uma aposta, porque seu time
perdeu. Ou porque perdeu muito dinheiro na Bolsa de Valores.
Aprendemos com coisas boas e com
coisas ruins. Até por uma má escolha de um político que acreditávamos em sua
boa fé. Quantas experiências já passamos de ter feito tantas escolhas erradas,
mesmo assim, continuamos errando. Batemos em portas e recebemos muitos não’s e
muitos sim’s. A vida é assim mesmo – frustrante. É na frustração que a desafiamos
mais. A vida é boa e ruim, oscila para frustração, quando perdemos, e oscila
para o prazer, quando ganhamos. O mundo é de perdas e de ganhos.
O bom é que, se aproveitarmos cada uma
dessas experiências, boas e ruins da vida, dos seus encantos e desencantos,
nunca devemos deixar de vista, que um dia podemos recomeçar.
Conrado Matos é Psicanalista, Licenciado
em Filosofia, Bacharel em Teologia e Escritor.
e-mal: psicanaliseconrado@hotmail.com
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